18/06/11

Da ovelha Dolly à vaca Rosita Isa [que agora não me apetece opinar sobre o governo]

Tenho para mim que o facto de termos virado costas à Natureza explicará muita coisa. Muito mais coisas até do que a teoria freudiana, acerca da qual Karl Kraus concluiu sensatamente o seguinte: A teoria antiga negava a sexualidade dos adultos. A moderna diz que os bebés têm prazer sexual quando defecam. A antiga era melhor, ao menos podia ser contraditada pelas partes envolvidas.

Não me interpretem mal.

1º: este texto não é sobre sexo;

2º: embora desconfie da psicanálise, nada tenho contra a penicilina (uma das grandes invenções do séc. XX).

Sendo ainda mais exacta: nunca me verão embandeirar em arco com qualquer tipo de “fascismo zen”. Dito isto, acrescento.

Desenganem-se os que pensam que por estarmos no topo da cadeia alimentar nos podemos borrifar no resto. Pensem comigo: visto que ninguém nos quer comer, se desaparecermos quem dará pela nossa falta além da família próxima e da Direcção Geral dos Impostos? (Ah, pois é…).

Vêm os parágrafos anteriores a propósito de mais uma proeza anunciada. Desta feita, Rosita Isa, vaca argentina clonada com dois genes dos nossos que, afirmam os investigadores responsáveis, poderá talvez fornecer, na idade adulta, leite semelhante ao dos seres humanos. Bom, eu nem sequer gosto de leite e posso estar a incorrer no maior disparate científico. Mas já tivemos, que me lembre, as vacas loucas, a gripe suína e a das aves, os pepinos espanhóis e a mierda alemã. Agora a Rosita? Rosita, esclareça-se, que também se poderia chamar, se bem entendi, quelque chose em chinês, já que, na China, vacas geneticamente intervencionadas terão sido igualmente capazes de produzir, soît disant, leite materno.

Ó glória de mandar/ ó vã cobiça, proferiu o Velho do Restelo e, fora ele escutado, nunca os ingleses teriam aprendido a beber chá com uma nuvenzinha de leite. Nevertheless, confesso que tudo isto me anda a provocar uma certa dor de cabeça. O que me tem valido são as pastilhas de ácido acetilsalicílico (outra das grandes invenções do séc. XX). A ciência às vezes é amiga.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Bom, Ana, a psicanálise vinga-se - dir-se-ia -, pois só por lapso - cuja explicação tem de residir nalgum conflito inconsciente (entre o apetite de guardar o bolo e o de o comer) - se concebe que vás buscar a aspirina como exemplo da philia da ciência, esquecendo a evidência da casca de salgueiro, tão natural e acessível (pelo menos aqui, no Ribatejo).

Abraço

miguel (sp)

via disse...

há coisas que também me fazem impressão mas não vou muito pela onda "O que é natural é bom"

Ana Cristina Leonardo disse...

Miguel, continuo à espera de ir ao Ribatejo -:)
Via, essa do que é natural é bom tb. não é necessariamente a minha onda