14/03/10

“Só morre quem quer” – José Gabriel Viegas (1942-2010)

Em pequeno morava num prédio em Lisboa onde tinha por vizinha uma família judaica. Zé Gabriel era então o puto goy que acendia e apagava as luzes no shabat. Ficou-lhe desses tempos a simpatia pelos hebreus e por Israel. Já adulto, viveu no exílio em Paris e foi jornalista na France Inter. Gostava de política e de História. Era inteligente. Deu-me vários conselhos que nunca segui mas, sobretudo, gostava de o ouvir falar sobre barcos, as ilhas do Adriático e a sua paixão por Conrad e pelo râguebi.
Pouco a pouco, foi ficando desiludido com muita coisa. Triste. Depois ficou doente. Quando se anda desiludido e triste as doenças são mais difíceis de combater. Disseram-me ontem que desistiu.
“Só morre quem quer”. Li esta frase uma vez no Virgílio Ferreira e levei muitos anos a entendê-la.

9 comentários:

lili disse...

O Bernardo Soares a certa escreve: ''Não sou pessimista, sou triste''. Acho que a tristeza nos leva mais depressa à derrota do que o pessimismo.

Táxi Pluvioso disse...

Isso queriam todos, mas a vida real é outra coisa, morrem todos. bom domingo

Ana Cristina Leonardo disse...

lili, tb. acho. Mas o que é a derrota?
Táxi, independentemente do "isso queriam todos" acho que não é "morrem todos" mas sim morremos todos.

Guidinha Pinto disse...

Penso que a tristeza é um estado de alma. Quem nasce triste, deixa-se levar pela vida. Vibra na vida, mas tranquilamente; sorri não dá gargalhadas.
E quando o fim chega, não impede ou luta contra a chegada, antes, abre a porta e deixa-se levar.
Na minha vida com mais de meio século, apenas conheci uma pessoa triste. E já não está.
Bom Domingo.

lili disse...

Não creio, Guidinha, que as pessoas já nasçam tristes, à maioria das pessoas é a vida que as vai entristecendo.

lili disse...

Creio que a tristeza nos mata mais depressa. Nos faz desistir mais cedo.

fallorca disse...

Era um gajo porreiro, um senhor; também os havia com ligações a Santa Comba Dão, sabias?

F disse...

A tristeza mata, sim senhora. Mata lentamente. Entranha-se nas células, causa feridas na alma e no corpo.

Ana Cristina Leonardo disse...

Fallorca, habitualmente tenho problemas com beirões, não me perguntes porquê - o Zé Gabriel era uma excepção

F, inteiramente de acordo