28/02/10

Pois é, isto anda por aí muita gente deprimida

Apesar da auto-estima de Amado que garante que lá fora é só elogios, nunca vi tanta gente deprimida por metro quadrado. Tenho para mim que tudo começou quando os portugueses assistiram pela tv às lágrimas de Carlos Cruz (claro que também podíamos recuar aos tempos de Afonso Henriques para concluir que uma nação que começa com um filho a tentar matar a mãe não augura grande futuro...).
Sem ir tão longe, diria que a partir do choro em directo tudo se precipitou. A crise ajudou à festa, Sócrates ajudou à festa, o PS ajudou à festa, o PSD ajudou à festa, o CDS ajudou à festa, o BE entrou em força na festa e o PC só gosta de festejar sozinho. De Cavaco não vale a pena falar.
Num país sem independentes a sério e onde poucos são aqueles que não têm telhados de vidro, com elites de merda, gente malcriada*, mergulhado num novo-riquismo ignorante que permite a uma empresa parceira do Estado afirmar que vende painéis solares que funcionam maravilhosamente com céu nublado, chuva e durante a noite e ninguém no governo se pergunta com que raio de energia funcionam afinal, estupidamente hipnotizado pelas “novas tecnologias” à prova de choque, seduzido por uma modernidade bolorenta que obrigou Portugal a mudar-se para a West Coast e o Algarve a dois LL, tudo antes do acordo ortográfico, onde a elementar decência é vista como burrice e a vigarice prova de inteligência, onde a autoridade se confunde com autoritarismo e à costumeira inveja se alia o encolher de ombros… Pois bem, consola-me que no meio disto tudo, assim como assim, haja tantos deprimidos: “Não é de admirar que a depressão seja hoje um mal tão comum. É quase reconfortante. É sinal que no íntimo das pessoas ainda resta o desejo de serem mais humanas.” (Disse-me um Adivinho, Tiziano Terzani, Tinta-da-China)
O problema, claro, está no quase. E nos que nunca deprimem.
*Cabe na cabeça de alguém, um primeiro-ministro, canastrão ou não canastrão quero lá saber, ser convidado de uma das poucas fábricas que funcionam em Portugal e pôr-se a fazer publicidade à concorrência directa? (ouvir aqui)

8 comentários:

sem-se-ver disse...

ahahahaah

o cartaz é demaissssssssssssssss!

Ana Cristina Leonardo disse...

sem-se-ver, o cartaz é o que nos vale

fallorca disse...

«Sem ir tão longe, diria que a partir do choro em directo tudo se precipitou.» Ah, mas é que fizeste muito bem em ter ido tão longe, porque esta gente só enxerga, e quando enxerga, de perto.
Não consigo abrir o link do canastras a fazer pub à concorrência. Não faz mal, lembro-me de vê-lo a ser forjado pela SIC/Rangel, é natural a vocação publicitária concorrencial.
Quanto ao Tiziano Terzani, não precisas de bater mais no ceguinho: disse-me um adivinho que o vou comprar amanhã :P

Ana Cristina Leonardo disse...

Fallora, já corrigi o link

jaa disse...

Deprimente (sem o "quase"). E nem sequer me lembro das lágrimas do Carlos Cruz.

(E vou, embora contrariado - tinha jurado que não comprava livros em Março -, sopesar o Terzani da próxima vez que for a uma livraria.)

F disse...

Pois é. De facto, o gajo, não mostrou qualquer sinal de vacilação, de insegurança... de dúvida. Um verdadeiro alien.
Lembrei, de repente, do diálogo entre William de Baskerville e o venerável Jorge, na biblioteca do convento, acerca do que é o Diabo (n'O Nome da Rosa)

fallorca disse...

«Fallora, já corrigi o link»
E, já agora, corrige o nome

Ana Cristina Leonardo disse...

ó fallorca, mil perdões