28/05/09

Maniqueísmo update: Vital passou do "sempre, sempre ao lado do povo" para o "sempre, sempre ao lado do polícia"

Quando se trata de prevaricações, prefiro caçar o prevaricador e não atirar sobre o polícia, disse Vital Moreira no âmbito da campanha para o Parlamento Europeu, referindo-se ao caso BPN e, supõe-se, a Vítor Constâncio.
E, por falar em campanha para o Parlamento Europeu, fiquei hoje a saber [se calhar já toda a gente sabia...], ao tropeçar num cartaz de rua da Juventude Socialista, que a JS é pelo "direito ao TGV" [!!!]. Acabo de encontrar a justificação online:
Quanto ao TGV, esta é uma proposta que a JS defende activamente sem qualquer lugar para dúvidas. É um direito da juventude, porque seremos nós quem mais tirará proveito com a alta velocidade.
Li e fiquei de rastos (e não, não são as preposições que me matam...)!
É que uma pessoa põe-se a pensar no InterRail com paragem em todas as estações e apeadeiros e (descontado o pivete das peúgas e a falta de desodorizante dos compagnons de route) não só leva com "o tempo, esse grande escultor" como ainda leva com o jovem Duarte Cordeiro.

6 comentários:

Anónimo disse...

"VIAJO DE COMBOIO todas as semanas. Porto-Lisboa. Lisboa-Porto. São três horas de pura delícia que obedecem a ritual estabelecido. Entro em Campanhã, instalo-me no lugar. Descalço-me. As meninas da CP, que obviamente já me conhecem, não ousam servir-me um «sumo», ou um «guaraná». Passam directamente - e discretamente - para bebidas mais proteicas. Entre Campanhã e Aveiro, ponho as notícias em dia. Três jornais diários - dois portugueses, um inglês. Em quarenta e cinco minutos, eu e o mundo tratamo-nos por tu. Em Aveiro tudo muda: recosto-me na cadeira, desaperto levemente o nó da gravata e sei que, até Coimbra, não há incómodos. O telemóvel permanece confortavelmente desligado. Acordo em Coimbra. Foram quarenta minutos de ronco suave - ou, como dizem os americanos, «the beauty sleep». Faço dois ou três telefonemas (profissionais), mais dois (sentimentais) e mais um (puramente clínico). Entre Coimbra e, digamos, Santarém, vou tomando notas para artigos diversos. Uma frase. Uma ideia. Um assomo de delírio. E de Santarém a Lisboa, é o grand final: trinta ou quarenta páginas de uma biografia, de um romance, de um ensaio. Quando chego a Lisboa, com a Cavalleria Rusticana a soar triunfalmente no portátil, sinto que rejuvenesci vários anos e, mais, que aquelas três horas foram as três horas mais felizes da minha miserável semana. Sem falar da nobre arte do engate, que ganha no comboio uma dimensão de cinefilia. O bar. A inesperada companhia de viagem. Os corredores, onde se cai sempre para o lado errado. E, claro, as minúsculas e tremidas casas de banho, cujos lavatórios foram anatomicamente concebidos por Cupido lui-même.

POIS BEM. Este mundo vai acabar. De acordo com o optimismo do tempo, Porto e Lisboa estarão a duas horas de distância. Talvez menos. É o TGV. É a adoração orgásmica da velocidade e a ânsia doentia de chegar. A ejaculação precoce do executivo moderno, sempre pronto a trocar o avião pelo comboio - desde que o comboio, claro, seja rápido e asséptico. Esta gente vai invadir o meu paraíso. Bárbaros igualmente produzidos e vestidos, a beber «Ice Tea» (não vomitem), o cabelo empastado com resina - e uma obsessão patológica por «mercados», «montes alentejanos» e «as tetas» de uma galdéria qualquer. O TGV não me rouba apenas uma hora de prazer inofensivo. O TGV acabará por liquidar um dos últimos vestígios de genuína civilização."

JP Coutinho

Ana Cristina Leonardo disse...

é mais ou menos isso. obrigada

João Lisboa disse...

Opá, esse texto é muito bom. Cheira-me que o vou gamar. Há link da coisa?

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=SOXHtRsTtk0&eurl=http%3A%2F%2Fwww.google.com%2Freader%2Fview%2F&feature=player_embedded

Táxi Pluvioso disse...

É natural que ame o polícia. Com a idade a verdadeira tendência sexual do português vem à tona (depois de anos perdidos em casamentos e filhos). E as fardas têm um efeito erótico reconhecido.

Anónimo disse...

Isso pode estar tudo muito certo, mas de momento, como ando um pouco despolitizado (et pour cause), preferia que me dissessem onde arranjo o DVD de North by Northwest, aqui iconicamente citado (um dos raros filmes sobre política que também são sobre transportes colectivos: carros, avionetas, aviões, comboios...). É que esse comboio onde vai o C. Grant e a Eva-Marie Saint nunca se apanha, nas várias edições «completas» do doutor Hitch.
FB